Este é um texto baseado na publicação do JORNAL DA PARAÍBA! Você pode encontrar a íntegra do mesmo no link abaixo:
O Jornal da Paraíba conversou com os artistas Shiko, William Medeiros e Minna Miná sobre suas relações com a arte e tecnologia.
No último Sábado, dia 15 de Abril foi comemorado o Dia Mundial do Desenhista. A data é uma iniciativa da Associação Internacional de Artes (IAA) para homenagear o nascimento do artista e inventor Leonardo da Vinci.
Nascido na aldeia de Vinci, na atual Itália, Leonardo era mais que um artista ou uma personalidade do Alto Renascentismo. Em suas obras, ele abordou a engenharia, arquitetura, matemática, esculturas, botânica e anatomia humana. Um dos seus trabalhos mais conhecidos é a enigmática Mona Lisa, A Máquina de Voo e o Homem Vitruviano.
Com o passar dos tempos, a relação entre a arte e a tecnologia se estreitou, proporcionando aos artistas novas formas de se expressarem e mostrarem suas visões de mundo. Desde o lápis de cor e papel a softwares de edição que conseguem criar efeitos de tinta guache e aquarela. Pensando nisso, o Jornal Paraíba conversou com artistas nacionais sobre a relação deles com a arte e tecnologia.
William Medeiros
Natural de Campina Grande, na Paraíba, William e os irmãos eram incentivados pelo pai, desde criança, a desenharem em livros de imagens e transformarem o que liam em imagens. Aos 16 anos ele se identificou com o cartoon e a ilustração, tornando, anos mais tarde, a sua profissão.
Nascido nas técnicas tradicionais de desenho, como papel e lápis, William começou a trabalhar com mesas digitais e o photoshop a partir dos anos 2000, acompanhando desde então a evolução dessas ferramentas.
Ele revelou que gosta de se definir como 99% digital, mas ainda assim prefere a sensação que a textura do papel e dos lápis de cor oferece, junto com o cheiro das tintas que usa para finalizar suas obras.
Mesmo assim, William reconhece que o uso da tecnologia facilitou muito a produção de seu trabalho e a forma que ele pode entregar uma ilustração melhor para seu cliente. William relembra que era muito difícil enviar desenhos para outras editoras pelo aeroporto e que uma vez ele quase perdeu uma ilustração importante porque tinha sido extraviada. A tecnologia, por sua vez, ajudou a resolver essa questão.
Ainda discutindo sobre o avanço da tecnologia, William aponta que a inteligência artificial se tornou uma adversária desleal para os artistas.
“Se tornou um risco muito grande para os ilustradores e um concorrente desleal, porque usa todos os recursos existentes na internet, de imagens, e faz uso disso eu diria até ilegalmente, para construir imagens a partir de uma simples construção de uma frase. Então o que um ilustrador leva dias pensando, planejando, pintando, a inteligência artificial faz em segundos, utilizando também recursos de outros artistas.
Shiko
Francisco José, mais conhecido como Shiko, é um artista natural de Patos, Sertão da Paraíba, que desde criança sempre gostou de desenhar e escrever, ao ponto que essa atividade já fazia parte de seu dia a dia e se tornou sua profissão. Dentre suas obras estão Azul Indiferente do Céu, Talvez seja mentira, Lavagem e Piteco – Ingá, além de deter o 26° Troféu HQ Mix de melhor desenhista nacional e melhor publicação de aventura/terror/ficção.
Shiko continua a usar as técnicas tradicionais de desenho em suas artes, mas isso nunca o excluiu das inovações trazidas pela tecnologia. Com a possibilidade de escanea-las, ele acabou impulsionando o alcance que as elas já tinham.
Diferente de William, Shiko acredita que softwares como Chat GPT e inteligência artificial não são uma grande ameaça para o meio artístico e que o trabalho de criar coisas novas vai continuar independente da forma como os seres humanos se relacionam com a criatividade e o meio que os cerca.
O artista ainda comentou que espera que essas ferramentas continuem servindo apenas como ferramentas e que elas estão muito longe de serem capazes de trocar a genialidade da mente humana para criar obras como as de Machado de Assis ou de Cecília Meireles, elas apenas emulam uma emoção passageira.
“Eu acho muito difícil que a tecnologia nos substitua […] A tecnologia é capaz de emular, imitar um estilo, mas ainda não é capaz de criar. Trazer uma coisa nova, algo que nos surpreenda criativamente”, declarou.
Minna Miná
Minna Miná, nascida em João Pessoa, começou a desenhar ainda criança. O que era um passatempo quando criança se tornou uma válvula de escape quando adolescente e uma necessidade quando adulta. Ela define sua carreira como uma consequência dessa jornada.
A ilustradora conta que seus pais sempre a apoiaram e que os melhores presentes sempre foram os materiais, sejam lápis, tintas e papéis. Ela lembra quando ganhou sua primeira mesa digitalizadora dos pais, ainda adolescente, que passou a usar programas de criação e edição de imagem para criar novos desenhos. Mas Minna nunca largou a técnica tradicional, apenas aprendendo e incorporando novas ferramentas digitais ao seu trabalho.
A artista explica que a maior parte do seu trabalho como designer e ilustradora é feita digitalmente, já que essas técnicas digitais permitem que alterações sejam feitas de maneira mais fácil, o que se torna primordial para o mercado de hoje. Para Minna, uma das melhores partes de ser uma artista são os estudos de forma contínua que nunca tem previsão para acabar, sendo uma forma de se redescobrir a si mesma através do seu trabalho.
Miná diz que a inteligência artificial chegou e evoluiu muito rápido, mas que essa ferramenta ainda não foi muito bem explorada, principalmente no que diz respeito ao impacto social e as implicações morais deste software.
A ilustradora comenta que essas ferramentas de criação usam como banco de dados o trabalho de artistas que não aprovaram previamente o uso de seu trabalho e que, em sua opinião, essas imagens geradas são plágio de outros artistas.
Minna acredita que IA vai continuar evoluindo, ela espera que os artistas possam encontrar uma maneira saudável de incorporá-la como ferramenta, sem que os mesmos sejam substituídos.
“O cérebro humano é uma poderosa máquina, que guarda muito mais informação do que qualquer IA consegue armazenar (hoje, pelo menos). Quando alguém desenha e coloca um lápis num papel, são anos de vivência, de sentimentos e emoções que estão sendo processados e postos em um papel, ou tela. Acredito que mesmo que daqui a uns anos a AI adquira essa mesma capacidade, ainda será preciso alguém para pensar e orquestrar tudo isso”, ressalta.
Artistas e a adaptação
Da mesma forma que Leonardo da Vinci, os três artistas entrevistados começaram sua jornada de aprendizado de maneira parecida, estudando e pondo em prática as novas técnicas que aprenderam, se adaptando às novas tecnologias, sendo do período renascentista ou contemporâneo, passando a usá-las como uma nova ferramenta para expor sua visão de mundo.
Texto de Katharina Moura
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