O Impacto da Tecnologia na Configuração da Arte Contemporânea
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O Impacto da Tecnologia na Configuração da Arte Contemporânea

Quando comentamos de Tecnologia e Artes juntas, devemos no atentar em algo muito importante:

A presença da tecnologia na expressão artística contemporânea é um fenômeno amplamente disseminado, afetando profundamente as práticas artísticas e sua relação com a sociedade. Christiane Paul, curadora de arte digital do Whitney Museum em Nova York, chega a afirmar que é difícil encontrar uma obra de arte que não tenha utilizado tecnologias digitais em algum ponto de sua produção.

No entanto, ao olharmos para a história da arte, percebemos que a tecnologia sempre esteve presente na sua evolução, desde a invenção da escrita e as primeiras técnicas de representação por imagem e som, até a utilização de materiais inovadores e diversas formas de tecnologia digital, transformando as formas de expressão e interação humana.

A arte contemporânea é valorizada não apenas como meio de expressão cultural, mas também por instigar uma visão crítica e reflexiva nos indivíduos, levando-os a questionamentos sobre o ser, a existência e o lugar do indivíduo na sociedade.

Contudo, sabemos que a criatividade e o pensamento crítico são habilidades altamente valorizadas em diversas áreas profissionais, tais como engenharia, arquitetura, design, pesquisa e publicidade, além das áreas mais diretamente ligadas às artes. De fato, essas habilidades são tão fundamentais que são destacadas tanto no relatório do Fórum Econômico Mundial (WEF) intitulado “The Future of Jobs: Employment, Skills and Workforce Strategy for the Fourth Industrial Revolution”, quanto na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) como competências essenciais para a formação dos profissionais e cidadãos do século XXI.

Não é surpreendente, portanto, que as artes tenham sido incorporadas obrigatoriamente ao currículo escolar brasileiro a partir de 1996, com a nova Lei de Diretrizes e Bases do ensino. A inclusão dessa disciplina tinha como objetivo principal o desenvolvimento de habilidades de expressão, comunicação, criatividade e pensamento crítico.

Aprender essas habilidades faz com que os indivíduos fiquem confortáveis fora das suas zonas de conforto, que confrontem o status quo e inovem. É um pré-requisito básico para viver numa sociedade em que estamos constantemente aprendendo durante toda a nossa vida.

Abaixo falaremos um pouco sobre a relação entre a arte e a tecnologia e mostraremos algumas obras de artistas contemporâneos que usam a tecnologia como ferramenta e inspiração.

 

A Interação entre Tecnologia e Arte

A interação entre tecnologia e arte é um tema fascinante e em constante evolução. De fato, a presença da tecnologia na arte é cada vez mais frequente e relevante, influenciando profundamente as práticas artísticas contemporâneas e suas conexões com a sociedade. Nesse sentido, é importante destacar dois tópicos relevantes:

  1. Tecnologia como ferramenta para a criação artística: Desde a invenção da escrita, passando pelas primeiras técnicas de representação de imagem e som, até o uso de materiais inovadores e diversas formas de tecnologia digital, a arte sempre utilizou a tecnologia como uma ferramenta para transformar as formas de expressão e interação humana.
  2. Impacto da tecnologia na apreciação e produção artística: Com a evolução tecnológica, surgem novas formas de produzir e apreciar a arte, como a realidade virtual e aumentada, o uso de algoritmos, inteligência artificial, entre outros recursos. Essas ferramentas abrem novas possibilidades de criação artística e de interação entre obra e espectador, desafiando a compreensão tradicional da arte e seu papel na sociedade.

 

Muitos artistas e mesmo profissionais das áreas de tecnologia acreditam que essa divisão entre arte e tecnologia nunca existiu. Isso porque o processo de criação de tecnologias e obras artísticas é muito parecido.

Tanto para a criação de um projeto artístico como para a criação de tecnologia é necessário se debruçar sobre um problema e olhar para ele de formas que não foram pensadas antes. Na raiz da criação estão a criatividade, a pesquisa guiada pela curiosidade e a experimentação.

A maioria das tecnologias que temos hoje são baseadas em descobertas científicas que não foram feitas pensando em uma aplicação prática para elas, mas apenas pela curiosidade dos cientistas em entender como certos fenômenos funcionam. Depois outros cientistas, engenheiros, designers e curiosos se utilizaram desses princípios para resolver problemas práticos criando tecnologias tão incríveis quanto os computadores, a internet ou a edição do DNA.

Nas artes assim como na ciência, o interesse do artista por certos temas, problemas ou a curiosidade sobre certos tipos de material os levam a pesquisar sobre maneiras de como utilizá-los para expressar ideias, emoções, críticas ou gerar interações inéditas entre as pessoas e sua arte.

Com os avanços da tecnologia digital, o primeiro movimento da arte foi incorporá-la como ferramenta, artistas usam programas de modelagem em computadores para dar corpo a esculturas, programação para controlar luzes em roupas com circuitos, equipamentos eletrônicos para construir instalações inteiras e nos fazer pensar sobre problemas que temos que enfrentar como o aquecimento global.

Num segundo momento a incorporação da tecnologia na arte passou de mero instrumento a objeto do pensamento crítico, vários artistas hoje usam a tecnologia em suas obras de forma metalinguística, para nos fazer pensar a nossa relação com a própria tecnologia e os usos que fazemos dela.

Essa conjunção da arte com a tecnologia tem por objetivo responder aos anseios do homem contemporâneo, inserido neste mundo tecnológico caracterizado pela conectividade, velocidade e pelo cotidiano caótico. É uma maneira de dar sentido e valor à tecnologia.

Vários artistas ao redor do mundo têm integrado a tecnologia às suas obras de arte tanto para proporcionar uma maior interação da arte com o público quanto como forma de reflexão sobre como a tecnologia pode afetar nossas vidas. Abaixo listamos alguns artistas que fazem da tecnologia seu instrumento de trabalho.

Refik Anadol – É um artista, designer e diretor de mídia que trabalha com tecnologia e arte. Ele é conhecido por suas instalações imersivas que utilizam inteligência artificial, aprendizado de máquina e outras tecnologias para explorar a relação entre a mente humana e a tecnologia. Anadol já realizou diversos projetos em todo o mundo, incluindo exposições em museus, instalações públicas, performances e filmes. Seu trabalho tem sido amplamente reconhecido e premiado, incluindo o prêmio “Melhor Arte Interativa” do Sheffield Doc/Fest em 2018.

Lisa Park – Uma artista sul-coreana que trabalha com performances e instalações multissensoriais. Ela é conhecida por suas obras que exploram a relação entre o corpo humano e a tecnologia, investigando questões relacionadas à identidade, intimidade e comunicação. Park utiliza diversos meios, incluindo o som, a luz e as ondas cerebrais, para criar experiências imersivas e sensoriais para o público.

Uma de suas obras mais conhecidas é “Eunoia”, uma instalação que utiliza o EEG (eletroencefalograma) para captar as ondas cerebrais da artista, que são então transformadas em sons e padrões de luz em tempo real. A obra foi exibida em diversas galerias e festivais de arte em todo o mundo, incluindo a Bienal de Veneza em 2015. O trabalho de Park é uma reflexão sobre a forma como a tecnologia pode nos ajudar a entender melhor a nós mesmos e nossa relação com o mundo ao nosso redor.

Miral Kotb – É uma artista americana que fundou a primeira empresa de tecnologia de dança com luzes: iLuminate. A empresa produz vestimentas ligadas a circuitos eletrônicos com LEDs (Light emitter diode, ou diodo emissor de luz em português) coloridos que acendem e apagam de acordo com a performance de dança obedecendo a uma programação. Ela já produziu performances para artistas famosos como Chris Brown e Ellen Degeneres.

Geoffrey Drake- Brockman – É um artista australiano especializado em instalações de larga escala. Ele utiliza robótica e programação para criar máquinas ou artes ópticas que gerem interação com o público e que respondam de maneiras diferentes dependendo dessa interação. Ele acredita que o principal motivo do uso de tecnologia na arte é gerar interatividade entre a obra e a audiência para obter um engajamento e maior reflexão sobre a obra.