Artistas vs IA: A luta pelo verdadeiro artefato criativo

Artistas vs IA: A luta pelo verdadeiro artefato criativo

Emily L. Spratt, uma historiadora da arte e especialista em IA, considera que as novas ferramentas de geração de imagem com inteligência artificial são mais entretenimento do que arte, apesar de suas muitas possibilidades. Ferramentas como DAAL-E, Midjourney e Stable Diffusion causaram uma revolução no mundo da arte por sua habilidade quase imediata de converter textos em imagens.

Para obter uma imagem de Brad Pitt remando em uma canoa no espaço estilo Mondrian, basta digitar ou dizer algo semelhante. Embora as empresas tecnológicas apresentem suas ferramentas como formas de libertar a arte, a ideia de democratização é vista como simplista e ingênua por Spratt. Ele acredita que esses recursos são na verdade uma maneira de incentivar o uso das grandes plataformas da Internet, beneficontroladas pelas respectivas corporações.

Generative AI: produção de imagens

Em 2022, a vitória de uma imagem gerada por Inteligência Artificial na competição de artes da Colorado State Fair, nos Estados Unidos, despertou controvérsia sobre o papel da IA como produção artística.

A obra vencedora, intitulada “Theatre d’Opera Spatial”, foi desenvolvida pelo designer de jogos Jason Allen usando o programa Midjourney, criador de imagens dirigido por Inteligência Artificial (IA) a partir de descrições textuais.

Allen recebeu um prêmio no valor de 300 dólares (cerca de 1.550 reais) na categoria Digital Arts/Digitally-Manipulated Photography (Arte Digital/ Fotografia Digitalmente Manipulada, em tradução direta do inglês).

Segundo a artista cearense Katarine Calado, as principais preocupações dos artistas estão ligadas mais ao processo criativo e ao plágio de arte do que à Inteligência Artificial em si. Os programas de IA são alimentados por imagens de artistas reais disponíveis de forma aberta, o que leva à reprodução do estilo de outros artistas sem qualquer reconhecimento ou crédito.

Katarine afirma que as imagens criadas pela IA não têm a mesma composição e estudo que uma obra de um desenhista ou ilustrador. Além disso, ela questiona a tentativa de tornar a produção artística mais barata para o mercado, o que leva à desvalorização do trabalho artístico. Segundo ela, as pessoas querem apreciar a arte, mas não estão dispostas a investir nela.

A crítica que mais ressoa entre a comunidade de artistas são as databases utilizadas para o aprendizado da IA. Segundo a ilustradora Joana Fraga, elas são compiladas a partir de um processo conhecido como raspagem de dados, do inglês “data scraping”.

“Essencialmente se apropriam dos nossos dados de imagem sem autorização. No campo artístico isso é especialmente problemático por conta dos direitos autorais e direitos de distribuição”, relata em entrevista para O POVO.

O estabelecimento de uma database mais ética, argumenta Joana, vai muito além do meio artístico e afeta a sociedade em geral, com a utilização da IA para criação de “deep fakes” com rostos de celebridades, políticos, etc.

“Em casos mais graves que presenciei pessoalmente no Twitter, um usuário estava comemorando a facilidade de se criar pornografia infantil usando IA”, declarou.

Joana já estudou maneiras de incorporar a IA em seu trabalho e até fez demonstrações de como usar as imagens de forma mais criativa através do processo de colagem.

“Mas conforme fui aprendendo mais sobre a natureza antiética das databases, usar a tecnologia a nível profissional vai estar condicionado à regulamentação”, completa.